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Os quatro cavalos do Apocalipse. Livro composto por Beatus de Facundus para os reis Ferdinando I e Sancha de Castela |
Don Bosco viu em sonho esse cavalo simbólico avançar sobre o mundo contemporâneo.
O que simbolizava esse cavalo? Na abalizada edição das "Memorie Biografiche" (volume 7, capítulo 22) vemos que os companheiros do Santo o interpretaram como um símbolo da "democracia sectária" que hostilizava a obra salesiana.
Nada de mais normal, a "democracia sectária" que se espraiava pela Itália no século XIX era filha da Revolução Francesa.
Aliás, poderia se falar que hoje também sobrevive essa mesma "democracia sectária" que tem os mesmos objetivos e métodos anticristãos.
Porém, alguns interpretaram - e com fundamento - que o "cavalo vermelho"é símbolo do comunismo que já produzia seus péssimos efeitos no tempo de Don Bosco.
Na perspectiva da mensagem de La Salette, as duas interpretações têm procedência, pois o comunismo é o filho criminoso da Revolução Francesa. E o "cavalo vermelho" do Apocalipse pode significar os dois, ou um ou outro, pois os dois promoveram perseguições sangrentas contra a Igreja.
A discussão não está encerrada. Apresentamos a nossos leitores, o texto completo de dito sonho segundo a abalizada edição das Memorie Biografiche, para que cada um possa formar sua opinião.
Eis o sono, acompanhado dos comentários dos companheiros do grande Santo italiano:
As crônicas do mês de julho [N.R. : 1862] relatam novas maravilhas sobre Don Bosco.
Dom Ruffino escreveu na sua crônica: 1 de julho. Don Bosco disse a alguns que o rodeavam depois do almoço:
— Este mês teremos que assistir a um funeral.
Em distintas ocasiões repetiu o mesmo uma e outra vez, mas sempre ante um reduzido número de ouvintes.
Estas confidências despertavam nos clérigos uma grande curiosidade, de forma que, nas horas de recreio, quando as ocupações o permitiam, rodeavam-no com a esperança de ouvir de seus lábios alguma novidade, e uma delas foi, como o compreenderam mais tarde, a intenção de Don Bosco de fundar um instituto para atender às meninas. Com efeito, assim o consignaram por escrito Dom Bonetti e Dom César Chiala.
Em 6 de julho o bom pai narrou a alguns de seus filhos o seguinte sonho que teve na noite de 5 a 6 do dito mês. Estavam presentes Francesia, Savio, (Beato) Miguel Rúa, Cerrutti, Fusero, Bonetti o Cavalheiro Oreglia, Anfossi, Durando, Provera e algum outro.
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Don Bosco |
— Não; fique onde está.
Depois começou a falar de meus jovens e dizia-me:
— É tão boa coisa que se ocupe dos jovens! Mas deixe-me a mim o cuidado das jovens; assim iremos de acordo. Eu repliquei-lhe:
— Mas, me diga: Nosso Senhor Jesus Cristo veio ao mundo para redimir somente aos jovenzinhos ou também às jovenzinhas?
— Sei — replicou — que nosso Senhor redimiu a todos: meninos e meninas.
— Pois bem; eu devo procurar que seu sangue não se derramou inutilmente, tanto para as jovens como para os jovens.
Enquanto estávamos ocupados nesta conversação, eis que entre meus jovens que estavam na praça começou a reinar um estranho silêncio. Deixaram todos seus entretenimentos e deram-se à fuga, alguns para uma parte, alguns para outra, cheios de espanto.
A marquesa e eu detivemos o passo e ficamos durante uns momentos imóveis.
Procurando a causa daquele terror demos uns passos para frente.
Levanto um pouco a vista e eis que ao fundo da planície vejo descer até a terra um cavalo grande... imensamente grande...
O sangue gelou-se nas veias.
— Seria como esta habitação? —, perguntou Francesia.
— Oh, muito maior! — replicou Don Bosco
— Seria grande e alto como três ou quatro vezes maior que este local, e maior que o palácio Madama (este palácio é um dos grandes palácios da cidade de Turim).
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A "democracia sectária" promoveu perseguições contra a Igreja. Na foto: expulsão dos religiosos de clausura da França |
Enquanto eu queria fugir temendo a iminência de uma catástrofe, a marquesa Barolo perdeu o sentido e caiu ao chão.
Eu quase não podia manter-me de pé, tanto tremiam os meus joelhos.
Corri a esconder-me detrás de uma casa que havia a muita distância, mas de lá alijaram-me dizendo:
— Saia, saia; aqui não tem que vir!
Enquanto isso eu dizia a mim mesmo:
— Quem sabe que diabo será este cavalo! Não fugirei, adiantarei-me-ei para examiná-lo mais de perto. E embora tremesse dos pés à cabeça, armei-me de valor, voltei atrás e aproximei-me.
— Ah! Que horror! Aquelas orelhas rígidas! Aquele focinho descomunal!
Às vezes parecia-me ver muita gente em cima dele; outras vezes, que tinha asas, de forma que exclamei:
— Mas isto é um demônio!
Enquanto o contemplava, como estava em companhia de alguns, perguntei a um dos presntes:
— O que quer dizer este enorme cavalo?
O tal respondeu-me:
— Este é o cavalo vermelho: Equus rufus, do Apocalipse.
Depois despertei e encontrei-me na cama muito assustado e durante toda a manhã, enquanto dizia Missa; no confessionário tinha diante de mim a (memória) daquele animal.
Agora desejo que alguém averigue se este "equus rufus", é verdadeiramente nomeado nas Sagradas Escrituras, e qual é seu significado.
E encarregou a Durando que procurasse resolver o problema. (Beato) Dom Miguel Rúa fez observar que, realmente no Apocalipse, capítulo VI, versículo IV, fala-se do cavalo vermelho, símbolo da perseguição sangrenta contra a Igreja, como explica nas notas da Sagrada Escritura, Mons. Martini. Eis aqui as palavras textuais do livro sagrado:
Et cum aperuisset sigillum secundum, audivi secundum animal, dicens: Veni et vede.
Et exivit alius equus rufus: et qui sedebat super illum datum est ei ut sumeret pacem de térra, et ut invicem se interficiant et datus est ei gladius Magnus.
(tradução:) Quando abriu o segundo selo, ouvi o segundo animal clamar: Vem e vede!
Partiu então outro cavalo, vermelho. Ao que o montava foi dado tirar a paz da terra, de modo que os homens se matassem uns aos outros; e foi-lhe dada uma grande espada.
Don Bosco dizia:
— Seria necessário que todos os bons e nós em nossa pequenez procurássemos com zelo e entusiasmo pôr um freio a esta besta que irrompe em qualquer parte aloucadamente.
De que maneira? Pondo em guarda aos povos mediante o exercício da caridade e com a boa imprensa que contrarie as falsas doutrinas de semelhante monstro, orientando o pensamento dos povos e os corações para a Cátedra de Pedro.
Nela está o fundamento indubitável de toda autoridade que procede de Deus, a chave mestra que conserva toda ordem social; o código imutável dos deveres e dos direitos dos homens; a luz divina que dissipa os enganos das mais inflamadas paixões; aqui o fiel guardião e o defensor poderoso da moral evangélica e da lei natural; aqui a confirmação da sanção imutável dos prêmios eternos reservados a quem observa a lei do Senhor e as penas igualmente eternas para os transgressores da mesma.
Mas a Igreja, a Cátedra de São Pedro e o Papa, são uma mesma coisa. Portanto, para que estas verdades fossem acatadas por todos, Don Bosco queria que se fizesse toda sorte de esforços por desfazer as calúnias contra o Pontificado e que se desse a conhecer os imensos benefícios que Roma reporta à vida social e se procurasse avivar em todos os corações, sentimentos de gratidão, fidelidade e amor para com a Cátedra de Pedro.